segunda-feira, 30 de março de 2020

ABRAÇA-ME




Mal podia imaginar que o meu abraço se eternizava agora no silencio de uma palavra. Fui deixando beijos pendurados em cada poema, calores e corpos em frases quentes. Agora é desses beijos que deves viver. Vai lá. Entrega-te às palavras e sente o calor. Demora-te no poema e esquece o mundo la fora. Vejo pela janela o Tejo desmaiado. A vaidosa Lisboa despiu-se de vida e está triste por não poder abraçá-lo. As gaivotas também desmaiam nas esplanadas desertas de gente e de alimento. Vai assim desmaiando a palavra na nossa cidade. Tão só está o meu olhar no encontro do teu, como o sorriso que encontrou o Tejo e desmaiou também. As mãos crescem em desatino pela frase que ficou por dizer e escrevem palavras abraçadas que só tu entendes. Tenho tantas saudades do teu abraço! Os dias param, a contrariar a seiva da videira que corre, corre sem parar, fazendo-me ter esperança no dia de amanhã. A terra exige toda a nossa atenção, porque também quer abraços e alimento e não pode desmaiar porque é agora que recomeça a vida na vinha. É agora que vão nascendo os filhos que nos dão o pão que escorregam por gargantas que abraçam o mundo.

Abraça-me!

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2020

De Paris Com Amor






De Paris Com Amor

Sei que existem distâncias sem tempo e dias que se silenciam a cada hora. Na azafama do dia a saudade vai crescendo num abraço quente que contrasta com o frio que sinto na face. Ouvem-se sinos a tocar uma melodia triste, talvez pelo amor a uma catedral ainda queimada por um fogo sem perdão. O rio vai correndo desenfreado como se estivesse atrasado para um encontro. Ouvem-se as águas a baterem nas muralhas da Pont Neuf e as gaivotas a gritarem penduradas nos lindos candeeiros da Place Saint-Michel. Quase a tocar o céu está a famosa Torre Eiffel carregada de charme, dona da cidade!  À noite a cidade luz é mãe dos casais que entrelaçam os dedos nas esplanadas cheias de flores. Elegantes os sorrisos de saltos altos e bolsas Prada, jovens que refrescam a vida das ruas cinzentas de inverno. Aqui os cheiros são do mundo inteiro, difícil é a escolha para o jantar a dois. Amanhã será um dia diferente para muitos… para nós será como hoje, um amor sem distância, sem tempo… para sempre!

14 de Fevereiro 2020

sexta-feira, 28 de junho de 2019

recomeço



talhei o quadro num intimo e fiel recomeço
cujo fim teve inicio no suave cair da folha
quebrei o galho castanho que segurava a dor
perdendo-a na vida sem um tempo de escolha

sou o gelo crispado que cobre a serra inquieta
escorrendo deste corpo uma saudade distante
pela terra que se abriu fecharam-se os lábios
à madrugada vadia e de libidinosa voz amante

engarrafei aquela palavra que apanhei verde
nos jardins de dedos em verdadeira euforia
soprando ao vento esperei pelo mar que a leve
ao abraço de quem sente a verdadeira poesia