Mal podia imaginar que o meu abraço se eternizava agora no silencio de uma palavra. Fui deixando beijos pendurados em cada poema, calores e corpos em frases quentes. Agora é desses beijos que deves viver. Vai lá. Entrega-te às palavras e sente o calor. Demora-te no poema e esquece o mundo la fora. Vejo pela janela o Tejo desmaiado. A vaidosa Lisboa despiu-se de vida e está triste por não poder abraçá-lo. As gaivotas também desmaiam nas esplanadas desertas de gente e de alimento. Vai assim desmaiando a palavra na nossa cidade. Tão só está o meu olhar no encontro do teu, como o sorriso que encontrou o Tejo e desmaiou também. As mãos crescem em desatino pela frase que ficou por dizer e escrevem palavras abraçadas que só tu entendes. Tenho tantas saudades do teu abraço! Os dias param, a contrariar a seiva da videira que corre, corre sem parar, fazendo-me ter esperança no dia de amanhã. A terra exige toda a nossa atenção, porque também quer abraços e alimento e não pode desmaiar porque é agora que recomeça a vida na vinha. É agora que vão nascendo os filhos que nos dão o pão que escorregam por gargantas que abraçam o mundo.
Abraça-me!